Benzedeiras do Recôncavo: história, fé e tradição

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Por: Vânia Alcântara 

No final do século XIX e início do séc. XX era muito grande a procura das rezadeiras ou benzedeiras na região do Recôncavo para tratar de algum mal como olho gordo, gripe  e passagem de vento.

O trabalho de uma benzedeira envolvia toda uma preparação, desde a colheita das folhas e raízes até as rezas e orações, mas acreditava-se que  não bastava apenas conhecer  as folhas e raízes; era  preciso ter fé  pra quebrar o as forças negativas  tanto do doente quanto das rezadeiras para que os banhos e orações fizesse efeito.

As práticas de curas através do uso de folhas, plantas, raízes e cascas faziam parte do Recôncavo, e as receitas de banhos e chás eram socializadas entre as pessoas. O conhecimento das benzedeiras era transmitido de geração para geração, fazendo parte da tradição e memória da nossa região.

A preparação dos banhos eram momentos sagrados que exigiam concentração de quem os preparava, e a depender dos males que seriam curados, os banhos tinham horário para ser tomados. Em alguns casos os banhos eram tomados momentos antes do pôr-do-sol, outros poderiam ser tomados à noite, contanto que fosse antes da meia-noite, e outros  não tinham horários específicos para serem tomados. Além disso, esses banhos não contavam com nenhum outro elemento como sabonetes. Algumas plantas tinham horários para ser colhidas.

Sendo assim, pessoas que estavam com algum tipo de doença procuravam o tratamento alternativo que geralmente era realizado em casa. Folhas, ervas, chás, beberagens e raízes e uma boa reza eram os principais métodos utilizados pelas benzedeiras e rezadeiras para curar as mazelas da população.

Era notória a presença das rezadeiras nos quatro cantos da região do Recôncavo Baiano. Elas cuidavam pessoas com males do corpo e do espírito. Respeitadas por uns, rejeitadas por outros, tinham uma grande influência na nossa região, apesar de contrariar a medicina  moderna  e a igreja católica, por ter rituais que nos remete ao candomblé.

Donas de um conhecimento simbólico, mítico e mágico, elas habitavam e participavam de uma sociedade, esses saberes adquiridos são transmitidos e reconstruídos, pelos povos indígenas, através da sua figura maior. O pajé transmitia seus ensinamentos para a figura que assumiria seu lugar, caso ele morresse. Esse conhecimento era passado de geração para geração. Para ser uma benzedeira é preciso que a pessoa tenha um dom.

Nos dias atuais, o que existe é uma certa dificuldade em encontrar pessoas que realizem esse ritual, se é que assim pode-se chamar. O que houve foi uma perda da tradição cultural da região, o conhecimento que era transmitido hereditariamente se perdeu no caminho. As pessoas perderam o interesse pelo benzimento e a procura pelas rezadeiras também caiu. As benzedeiras que exerciam esse tipo de ritual atingiram uma idade avançada, desenvolveram doenças, ou mudaram de religião.

Outro fator que tem causado a  ausência das benzedeiras é a  falta de quem queira continuar com esses rituais, sendo assim as benzedeiras, mas experientes não tem para quem transmitir seus conhecimentos. Além disso, a medicina tradicional tem conseguido evoluir tecnologicamente, tornando-se eficaz no descobrimento de métodos de cura, ajudando na prevenção e nas descobertas de novas doenças e conquistando as pessoas.

O benzimento é feito com galhos de guiné, alecrim e arruda, sendo que o ramo deve ter sete galhos, que são colhidos pelas benzedeiras. O ritual é feito de acordo com o mal atribuído, como por exemplo, se o mal for olhado, a pessoa se senta diante da benzedeira e ela realiza as orações, fazendo o sinal da cruz com o ramo de ervas sobre a cabeça do doente. Nas rezas são utilizados vários tipos de orações da Igreja Católica, misturadas a palavras e resmungos incompreensíveis de um latim corrompido. Essas rezas atendem a diversos tipos de necessidades, além de buscar soluções para  conflitos familiares, do corpo e da alma.

As religiões mais tradicionais cristãs tem proibido a prática do benzimento, alegando  que esse ritual tem características espíritas  com origem no candomblé, religião africana.

Vigília Gomes, chamada carinhosamente de Vózinha, devido a sua idade, era uma benzedeira de mão cheia na cidade de Governador Mangabeira na região do Recôncavo da Bahia. Jadeilson Gomes, seu neto, nos revelou detalhes da sua convivência, ritual, preparação e o porquê que Dona vigília deixou de exercer a sua função?

RITUAL: Acompanhava desde cortar as ervas, mas quando era a gente que ela iria rezar de olhado, que às vezes a estava ali no quintal mesmo: vassourinha, pião, acompanhava desde o primeiro passo. Alguns casos quando chegava lá acompanhávamos. Quando ia rezar de olhado que era mais fácil, porque as ervas tinham ali na frente também acompanhávamos desde o início. Passagem também era com folhas que tinham no quintal. Espinhela nem precisava de folhas era pedras e orações. Alguns processos desses acompanhávamos sim, desde o início até a ultima frase da oração os pedidos.

PROCESSO DE PREPARAÇÃO: Não tinha processo de preparação porque as orações que ela fazia eram populares e bem simples, todas as rezas que ela fazia dependia apenas da folha, a erva no caso. Só cobreiro que ela precisava de água com sal, além da folha e depois no final da reza tinha que cortar as folhas e jogar nas cinzas, então preparação que se tinha era essa, mas ela particularmente parar em algum momento para se preparar não. Se fosse espinhela caída e a pessoa chegasse agora para rezar não podia, tinha que ser em jejum, ai ela dizia oh vem amanhã de manhã entre 6h:30 e 7h, mas não tinha nenhum aspecto no sentido de parar e preservar.


PARADA: Além da idade veio os problemas de saúde, ela ficou muito debilitada muito fraca. E as pessoas que se expõe a rezar deveria está bem, para  não adquirir nenhuma carga negativa, isso a gente ouvia muito de pessoas mais velhas. Outro fator foi a mudança de religião, mas aí ela praticamente já não rezava mais, ela era já era proibida de rezar devido ao seu problema de saúde.

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