Benzedeiras do Recôncavo: história, fé e tradição
18:05
Por:
Vânia Alcântara
No
final do século XIX e início do séc. XX era muito grande a procura das
rezadeiras ou benzedeiras na região do Recôncavo para tratar de algum mal como
olho gordo, gripe e passagem de vento.
O
trabalho de uma benzedeira envolvia toda uma preparação, desde a colheita das
folhas e raízes até as rezas e orações, mas acreditava-se que não bastava
apenas conhecer as folhas e raízes; era preciso ter fé pra
quebrar o as forças negativas tanto do doente quanto das rezadeiras para
que os banhos e orações fizesse efeito.
As
práticas de curas através do uso de folhas, plantas, raízes e cascas faziam
parte do Recôncavo, e as receitas de banhos e chás eram socializadas entre as
pessoas. O conhecimento das benzedeiras era transmitido de geração para
geração, fazendo parte da tradição e memória da nossa região.
A
preparação dos banhos eram momentos sagrados que exigiam concentração de quem
os preparava, e a depender dos males que seriam curados, os banhos tinham
horário para ser tomados. Em alguns casos os banhos eram tomados momentos antes
do pôr-do-sol, outros poderiam ser tomados à noite, contanto que fosse antes da
meia-noite, e outros não tinham horários específicos para serem tomados.
Além disso, esses banhos não contavam com nenhum outro elemento como sabonetes.
Algumas plantas tinham horários para ser colhidas.
Sendo
assim, pessoas que estavam com algum tipo de doença procuravam o tratamento
alternativo que geralmente era realizado em casa. Folhas, ervas, chás,
beberagens e raízes e uma boa reza eram os principais métodos utilizados pelas
benzedeiras e rezadeiras para curar as mazelas da população.
Era
notória a presença das rezadeiras nos quatro cantos da região do Recôncavo
Baiano. Elas cuidavam pessoas com males do corpo e do espírito. Respeitadas por
uns, rejeitadas por outros, tinham uma grande influência na nossa região,
apesar de contrariar a medicina moderna e a igreja católica, por
ter rituais que nos remete ao candomblé.
Donas
de um conhecimento simbólico, mítico e mágico, elas habitavam e participavam de
uma sociedade, esses saberes adquiridos são transmitidos e reconstruídos,
pelos povos indígenas, através da sua figura maior. O pajé transmitia seus
ensinamentos para a figura que assumiria seu lugar, caso ele morresse. Esse
conhecimento era passado de geração para geração. Para ser uma benzedeira é
preciso que a pessoa tenha um dom.
Nos
dias atuais, o que existe é uma certa dificuldade em encontrar pessoas que
realizem esse ritual, se é que assim pode-se chamar. O que houve foi uma perda
da tradição cultural da região, o conhecimento que era transmitido
hereditariamente se perdeu no caminho. As pessoas perderam o interesse pelo
benzimento e a procura pelas rezadeiras também caiu. As benzedeiras que
exerciam esse tipo de ritual atingiram uma idade avançada, desenvolveram
doenças, ou mudaram de religião.
Outro
fator que tem causado a ausência das benzedeiras é a falta de quem
queira continuar com esses rituais, sendo assim as benzedeiras, mas experientes
não tem para quem transmitir seus conhecimentos. Além disso, a medicina
tradicional tem conseguido evoluir tecnologicamente, tornando-se eficaz no
descobrimento de métodos de cura, ajudando na prevenção e nas descobertas de
novas doenças e conquistando as pessoas.
O
benzimento é feito com galhos de guiné, alecrim e arruda, sendo que o ramo deve
ter sete galhos, que são colhidos pelas benzedeiras. O ritual é feito de acordo
com o mal atribuído, como por exemplo, se o mal for olhado, a pessoa se senta
diante da benzedeira e ela realiza as orações, fazendo o sinal da cruz com o
ramo de ervas sobre a cabeça do doente. Nas rezas são utilizados vários
tipos de orações da Igreja Católica, misturadas a palavras e resmungos incompreensíveis
de um latim corrompido. Essas rezas atendem a diversos tipos de necessidades,
além de buscar soluções para conflitos familiares, do corpo e da alma.
As
religiões mais tradicionais cristãs tem proibido a prática do benzimento,
alegando que esse ritual tem características espíritas com origem
no candomblé, religião africana.
Vigília
Gomes, chamada carinhosamente de Vózinha, devido a sua idade, era uma
benzedeira de mão cheia na cidade de Governador Mangabeira na região do
Recôncavo da Bahia. Jadeilson Gomes, seu neto, nos revelou detalhes da sua
convivência, ritual, preparação e o porquê que Dona vigília deixou de exercer a
sua função?
RITUAL:
Acompanhava desde cortar as ervas, mas quando era a gente que ela iria rezar de
olhado, que às vezes a estava ali no quintal mesmo: vassourinha, pião,
acompanhava desde o primeiro passo. Alguns casos quando chegava lá
acompanhávamos. Quando ia rezar de olhado que era mais fácil, porque as ervas
tinham ali na frente também acompanhávamos desde o início. Passagem também era
com folhas que tinham no quintal. Espinhela nem precisava de folhas era pedras
e orações. Alguns processos desses acompanhávamos sim, desde o início até a
ultima frase da oração os pedidos.
PROCESSO
DE PREPARAÇÃO: Não tinha processo de preparação porque as orações que ela
fazia eram populares e bem simples, todas as rezas que ela fazia dependia
apenas da folha, a erva no caso. Só cobreiro que ela precisava de água com sal,
além da folha e depois no final da reza tinha que cortar as folhas e jogar nas cinzas,
então preparação que se tinha era essa, mas ela particularmente parar em algum
momento para se preparar não. Se fosse espinhela caída e a pessoa chegasse
agora para rezar não podia, tinha que ser em jejum, ai ela dizia oh vem amanhã
de manhã entre 6h:30 e 7h, mas não tinha nenhum aspecto no sentido de parar e
preservar.
PARADA: Além
da idade veio os problemas de saúde, ela ficou muito debilitada muito fraca. E
as pessoas que se expõe a rezar deveria está bem, para não adquirir
nenhuma carga negativa, isso a gente ouvia muito de pessoas mais velhas. Outro
fator foi a mudança de religião, mas aí ela praticamente já não rezava mais,
ela era já era proibida de rezar devido ao seu problema de saúde.
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